08/06/2010

ecce homo

o frio cortava o rosto como lâminas afiadas. segurou a gola do casaco para tapar o pescoço. só via os pés e as pernas de outros rostos que não conhecia. de cada lado das ruas graníticas corria um rio de gente, em silêncio, em comunhão com Ele. as velas nas mãos gretadas, geladas. mãos despidas. mãos... abertas. a luz na escuridão. vislumbre de compaixão. queria cuspir a culpa, mas ela não caiu. continuou a andar, acompanhando a procissão. era tarde. noite cerrada. estava cansado. exausto. caminhava com passo cadenciado e seguro num caminho errante que se ia desenhando à sua frente de forma tímida. torrente de calor. espírito materializado. alento. amor. amor. amor. continuou embalado, como se em transe. quando se deitou, percebeu que era apenas humano. podia chorar. e chorou. sem receio, sem vergonha, sem pressas.

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