09/10/2010

não tenhas medo

se tropeçar, receosa, nos teus ramos,
não te recolhas à terra sem mim.
não tenhas medo, eu estou aqui.
enlaça-me nos bagos que me sorris
e ensina-me como se semeia um sol.

o apanhador

caiu a lua circular
na palma da tua mão
e todos os astros estelares
nos nós dos teus dedos
e quando o negro
perdeu a cor
dos contrastes
que nos bebem os olhos
só tu brilhaste
na minha pele
e foste capaz
de chamar o meu nome
rugindo as entranhas da terra e
uivando os cristais de sal
com que me pintaste
nos teus sonhos arbóreos,
só tu te saciaste em mim
na refrega da fome
sem nome,
só tu exististe
porque nasceste
para podar os meus braços,
só tu foste,
só tu...
que andas por aí,
apanhador de astros,
planetas e cometas,
que da poeira cósmica
hás-de fazer o berço
do resto das horas.
ainda tenho aquela estrela
que me deixaste
quando estava desprevenida.

quero-te

quero-te
em minúsculas
E QUERO-TE
em maiúsculas,
quero-te
nas palavras caladas
e quero-te
no gorjeio dos lábios,
quero-te no desejo
que em ti adivinho,
no marulhar da respiração
que não consegues conter,
não vês
como te quero?

Am I?

I lost track of time
While exploring your soul.
Am I guilty, my dear,
Of loving you above all?

tristesse

Tu te rends compte
Que mon coeur
Pleure encore,
Des larmes de sang,
Une pluie vertigineuse
Dans le vide absolu?
Tu te rends compte
Que la nuit est venu
Pour rester à jamais,
Se coucher à côté,
M'envahir jusqu’au bout
Où tout a commencé?
Tu te rends compte
Que ma bouche
Elle est morte,
Que mes yeux
Restent tristes,
Sans un seul sourire?
Tu te rends compte
Du noir que tu as laissé,
Du malheur qui perce
Chaque pore de mon corps,
Sans espoir de guérir?
Te rends-tu compte?

asas-planador

quando é que sabemos? há um dia? um momento? libertinas as palavras cegas e egoístas que pisam, repisam, não querendo saber. indiferença das lágrimas gastas. gestos invisíveis presos nas chamas dos condenados. terra estéril, queimada pelos olhos dos que não estão. fiapos de voz. força ténue. moribunda humanidade dos dedos que tentam alcançar o que a mente escondida tornou pérfido. ínvios os degraus que os pés sugam para não perderem as mãos. toldados. mirrados. quando? quando é? na morte?
abre a força das marés no meu peito, beija-me gentil. deixa-me procurar nas pedras os sorrisos, os sonhos, e fundir-me com o musgo da música que me enche e sustém.
o amor é um estado, conquistado, em cada instante. não se vende. não se adquire. não se engana. só nós...
só uma palavra, sem complementos.
descoberta, na escalada rochosa. asas do vento férreo semeado no começo. asas-planador...