28/10/2011

ímpetos salgados

perdi as lágrimas na espuma
nas ondas nas algas na areia.
o mar não nasce nos olhos,
mas na força de um peito vivo.
não há vazante, nem enchente;
aqui, apenas batem marés vivas.

quando um olhar

foram os teus olhos, sabias? a intensidade do teu olhar sobre o meu. não mediste forças. não me possuíste. não me violaste. apreciaste-me devagar. lentamente. degustaste o sabor dos meus olhos. fizemos amor. percebeste isso? naqueles segundos que duraram minutos, que duraram horas, que duraram dias? nunca tinha feito amor assim. e gostei! gostei muito! gostei tanto! foram os teus olhos. a culpa é toda dos teus olhos...

ecos

ecoas cá dentro
vezes demais.

já não me lembro
como se sonha.

vives em mim
há quanto tempo?

faz-me sorrir
e ouvir a voz
do teu sangue.

01/10/2011

campo magnético

dá-me a tua mão. está quente! o que sentes na minha? o percurso dos dias que estão por nascer ou o gelo daqueles em que te deixaste morrer? segura-me com força, abraça-me, encosta a tua cabeça à minha. não digas nada. fica assim. assim, como estás agora. sossegado, meigo, penetrante. a tua presença é tão doce, é tão boa. gostava de ficar assim eternamente, imune à passagem dos tempos. o teu calor... está na hora. vamos escrever o resto das horas que nos faltam. alinha-me com o universo e dispara-me sobre a face da lua. eu sou a brisa que te beija o rosto e a luz que germina no teu seio. eu estou em ti e sempre estive. sou aquele pulsar que não sabes explicar, a memória que não consegues apagar. as minhas raízes nutrem os meus bens mais preciosos, e as nozes, o mel, os beijos que nascem em mim afagam cada um dos meus dias. doce veneno.

essa coisa estranha

magoa, sustém-nos a respiração, molha-nos os olhos apenas porque sim, faz disparar o ritmo cardíaco, fecunda a imaginação, apodera-se de nós, dá-nos apetrechos para perdoarmos, faz-nos ver o que mais ninguém vê, conduz-nos por caminhos acidentados, que nem sempre são os mais óbvios, tranquiliza-nos, faz-nos sentir especiais e únicos, preenche os nossos dias com magia, desenha sorrisos e pequenas rugas de felicidade, oferece-nos um sentimento de pertença, de importância, dá-nos vida...
essa coisa estranha, que nos fomenta tanta contradição, uma lágrima alegre, um sorriso dorido, onde o gelo derrete e o sol é diferente todos os dias, onde a lua nos abraça, esse lugar sem mapa, esse canto encantado, essa escala musical que nos percorre e arrepia, que desfia um olhar de cada vez, essa manta quentinha, macia, esse doce aveludado...
é mesmo estranha!