15/06/2011

crisálida

ontem, era menina. só menina. quero morrer ontem. já chega! amanhã, quero ser além. não aguento mais as delicadas teias que envolvem os meus gestos, o meu pensar, as palavras que deixo a pairar no ar. quero deitar-me ao ar livre, de preferência, à chuva sobre um qualquer tronco velho curvado perante a minha nudez e lascívia. e à noite! quero vestir-me despudoradamente, com os seios bem marcados sob um decote indecoroso, de ancas bem vincadas a segurar a saia que mostra apenas meio joelho, de saltos altos a projectar-me para o céu, como se estivesse numa estação elevatória a caminho do pecado. só o rosto não tem pintura nem disfarces. tenho a cara lavada, harmoniosamente estruturada sobre um corpo ardente. quero rir-me sem cuidado, sem medo de cair para trás, sem receio do ridículo ou do risível (como teorizou Kundera), estar-me nas tintas para a pequenez das cabeças intelectualóides sob cujo crivo passa toda a normalidade banal que grassa por aí, com palavras rebuscadas e sem sentido, mas que todos aplaudem, precisamente por não perceberem nada!
gostava de deixar o casulo, de nele abrir as fissuras suficientes que me permitissem espreitar cá para fora, que me deixassem ser mulher! ah, como o fogo queima impiedoso as minhas entranhas...

sabor a sal

a vida é um mar de promessas e, quando menos se espera, um novo rumo aguarda-nos, inteiro! está ali, à nossa espera. chama-nos a sorrir. sem pressas, sem angústias. por que levamos tanto tempo a decidir? de quem temos nós tanto medo? que magoe? da solidão? do engano? patetas! a vida é isso mesmo. conjugar dos contrários numa mão e reencontro connosco na outra. ah, sedução da alma... esta vida faz-me perder a cabeça. sorri-me nos olhos e sussurra-me aos ouvidos:
«não tenhas medo. vem. deixa-te ir. deixa-te ir.»
a vida está a seduzir-me e eu estou a ficar apaixonada. como gosto de viver, meu Deus! como gosto! vou perseguir sorrisos com a fúria das tempestades, até ficar exausta e não conseguir mais do que deixar-me cair no chão, de sorriso estampado nos lábios. quero ser criança até ao final, até ao desagregar de cada átomo meu nas mãos do universo.
«não tenhas medo.»
diz-me a vida a sorrir... sacana! como mexe comigo! como adoro viver!